Decibéis 002 – André Abujamra

Set list
Chico Science & Nação Zumbi – Rios, pontes e overdrives
Karnak – O Mundo
Nação Zumbi – No olimpo Confira a entrevista Seu segundo cd solo que você acabou de lançar, o “Retransformafrikando” tem um nome um quanto tanto inusitado. Da primeira vez que ouvi achei que tivesse a ver com África devido sua influência do afro-beat. Eu gostaria que você explicasse com suas próprias palavras o significado desse nome. Se chama “Retransformafrikando” porque eu fiz uma cirurgia de redução de estômago. Eu perdi 70 kilos e o nome do disco tem a ver com renascimento, transformação… Então a idéia é de retransformar ficando, ou seja, você muda, mas você não morre. É um renascimento. Afrikando é porque eu sou do candomblé que tem a ver com África. Então é Retransformafrikando… é uma viagem da minha cabeça na verdade mas que eu acho bonito, que tem a ver com renascimento, candomblé e por aí vai. No filme Durval Discos além de você ter feito a trilha sonora, você atuou com seu personagem Fat Marley. Então eu queria saber se depois dessa retransformafrikação ainda vai haver o Fat Marley? Existe, não só porque lancei um disco novo. O cd do Fat Marley é vendido só pela internet no site da UOL, mas parece que nenhum disco foi vendido ainda, mas ele existe sim. Mas costumo dizer que o Fat Marley não sou eu né?! (risos). Você é um dos produtores de trilha sonora mais requisitado do país. Fez trilhas de diversos filmes de renome do cinema nacional trabalhando com importantes diretores. Como é na prática esse processo. O diretor te passa o roteiro e só? Ou você tem a oportunidade de criar a trilha em cima de imagens da pré-produção? Eu já fiz 40 longas-metragens, mais de 30 no Brasil e 3 fora do Brasil também. Então, você pode ter a idéia de que tive todo tipo de experiência na vida desde pegar o filme totalmente pronto e poder criar a trilha em cima das imagens como fazer as músicas antes mesmo das filmagens começarem como no caso do Castelo Rá-tim-bum. E já fiz de várias outras formas também. Já conheci diretores malucos, maravilhosos como Carlos Manga e foi muito bom. Um filme é como se fosse uma alma, um ser. Cada filme é de uma forma, cada processo é diferente não tem como eu te falar é assim que eu faço, porque não é. Cada filme tem uma história pra contar, entende? Elementos eletrônicos como samples, sintetizadores, além de vários outros sempre estiveram presentes em suas composições desde a época do Mulheres Negras já dava para perceber isso. Nesse caso, como você produz esses sons? Com programas de áudio mais comuns mesmo? Por exemplo, muita gente usa o Acid, Fruity Loops… ou é tudo gravado por você mesmo e depois remixado? Quando eu faço música pra cinema me agrada muito música ao vivo, o uso de orquestra mesmo. Aí eu jogo essas músicas no computador. Uso o Macintosh, um programa chamado Logic Audio que agora é da Apple e ando usando um programa também chamado Alive que é um pouco parecido com o Acid no PC, mas que dá pra usar com o Macintosh também. Então eu gosto de gravar meu som e desconstruí-los dentro do meu computador. E nesse caso suas produções são feitas em home studio ou você vai até estúdios profissionais para fazer tudo isso? O processo é assim: primeiro eu crio no meu estúdio e em seguida mostro pro diretor, se ele gostou em transformo em orquestra. Daí, vou pro estúdio grande e gravo em orquestra aí eu volto pro meu estúdio pra mexer na orquestra e pra mixar em 5.1 eu volto pro estúdio grande. Uma última pergunta… Eu gostaria de saber, a partir de seu ponto de vista como músico, produtor, enfim… Viver de música autoral no Brasil nunca foi uma coisa muito fácil, na sua opinião qual o melhor caminho pra quem trabalha com música independente e até pra quem está começando ainda nesse ramo? O que me incomoda muito é eu ver a molecada virar pra mim e dizer assim: “Pô, André, não tem espaço pra música…” Olha, quer saber? O que incomoda é neguinho achar que o disco que ele vai fazer é o fim do mundo. O artista no Brasil ele não se faz por um disco ou por dois, ele se faz por uma história que deixa. Então, o que eu costumo dizer com a molecada é; meu, façam bastante e produzam bastante porque um artista se faz de muito trabalho e não só de um disco. O cara acha que está fazendo a obra-prima da vida dele, mas não é assim não. Tem que aprender a errar, aprender a trabalhar né?! Uma vez eu fui numa palestra sobre música independente e tinha um cara lá que falava assim: “Nós não temos espaço!” Que mané espaço, meu. Sobe em cima da mesa, pega sua guitarra e vai tocar pra sua tia, pra sua vó. Cria, experimenta, erra, faz. O cara só quer ficar reclamando que não tem espaço. O Mulheres Negras por exemplo tem mais de 20 anos era um puta trabalho maluco pra caramba e está voltando aí. O negócio é enfiar a mão na massa. Não ficar pensando se vai fazer ou se não vai. Faz, cara! Junta a galera, vai pra garagem, cobra 1 real da vizinhança e toca, sabe como é? Põe na internet, no myspace… Você mesmo me achou pelo Myspace num foi? Então, eu quero que as pessoas trabalhem. Não fique esperando nada de ninguém. Ninguém quer seu bem, querem mais é que você se estrepe. Quando aquele filme que o jornalista fez sobre os velhinhos cubanos do Buena Vista Social Club eu me emocionei tanto. Os caras foram descobertos com 90 anos de idade. Cedo ou tarde, se seu trabalho tiver consistência ele aparece. Não fique achando que tudo que você faz é bom. Às vezes é ruim e é bom saber que é ruim. É bom errar, é isso que eu digo pras pessoas. Não sei se respondi sua pergunta, mas é isso o que eu acho assim. Respondeu sim. André, se você quiser deixar alguma mensagem pros ouvintes do Decibéis e da Rádio Online… Pessoal, aqui é o André Abujamra que ta falando e a mensagem é a seguinte: Ninguém tem que fechar a cabeça de vocês. Não tente achar coisas feias nas coisas bonitas nem coisas bonitas nas coisas feias. Porque tem muita gente que é radical em muita coisa na vida e não vê beleza em coisas que não gosta. Se você conseguir ouvir um Sandy e Junior misturado com Sepultura dá maior caldo, meu. A diferença é uma coisa linda, não a igualdade. A diferença é o que une as pessoas. É aquela mania de achar que a diferença é ruim. Não, a diferença é uma delícia. Se você parar de tentar achar coisas feias nas coisas bonitas e coisas bonitas nas coisas feias talvez você vá criar mais interesse pela vida.]]>

Podcast: Decibéis

Agradecimentos: André Abujamra
Locução, produção e edição: Gustavo Souza